Os campeonatos europeus de clubes reúnem a elite do futebol mundial, os principais jogadores e elencos estelares, mas também contam com diversas equipes cuja história é feita apenas de glórias ocasionais. Esses ilustres desconhecidos formam um aspecto pitoresco da Champions League e da Liga Europa: um mundo muito mais humilde, mas não menos apaixonante. Um desses clubes “alternativos” vem da região da Ossétia do Norte, na Rússia. Na cidade de Ordzhonikidze, em 1937 foi fundado o Spartak local, carregando em seu uniforme a bandeira da província: listras verticais amarelas e vermelhas, calções brancos. Até o colapso da União Soviética, porém, o time era coadjuvante no campeonato russo, longe de contar com jogadores de ponta e sem resultados expressivos. Participou da primeira divisão soviética apenas em 1970 e 1990, sendo em mais de 50 anos uma presença constante na segunda divisão local. Com o desmembramento da superpotência comunista, a equipe adotou o novo nome da cidade natal, Vladikavkaz, e inicialmente chamou muito mais a atenção por ser o único time do interior da Rússia a fazer parte do campeonato. Foi quando teve seus primeiros momentos de destaque: em 1992, foi vice-campeão, atrás apenas do então dominante Spartak Moscou. Qualificado para a Copa Uefa, foi eliminado pelo Borussia Dortmund depois de empatar em 0x0 em casa e perder pelo placar mínimo na Alemanha. Em 1995, o Spartak Vladikavkaz passou a se chamar Alania Vladikavkaz e obteve sua maior glória futebolística. Contando com jogadores que fizeram parte da seleção russa que foi à Copa de 94 (quando esteve no mesmo grupo do Brasil de Bebeto e Romário), como Syarhey Harlukovich e Omari Tetradze, a equipe quebrou a hegemonia de seu homônimo de Moscou no campeonato russo e conquistou seu primeiro e único título da primeira divisão. Na Copa Uefa, mais uma vez o sorteio foi ingrato: enfrentou os ingleses do Liverpool e foi eliminado após uma derrota (2x1 na Inglaterra) e um empate sem gols. Na temporada seguinte, o então campeão russo disputou pela primeira vez a Copa dos Campeões e foi atropelado pelos escoceses do Rangers em grande estilo: derrotas por 3x1 em casa e 7x2 em Glasgow. No agregado, 10x3 para o Rangers. Na Copa da Uefa, enfrentou o Anderlecht, da Bélgica: vitória em casa por 2x1 e derrota por 4x0 em Bruxelas. Tendo sido vice-campeão russo em 1996, o Alania voltaria em 1997-1998 ao cenário europeu, para sua melhor participação na Copa Uefa: na fase classificatória, passou pelos ucranianos do Dnipro Dnipropetrovsk sem grandes complicações, com vitória por 2x1 em seu Republican Spartak Stadium, inaugurado em 1962 e com capacidade de receber 32.464 torcedores; e goleada por 4x1 na Ucrânia. Na primeira fase, enfrentou o MTK, da Hungria: com derrota por 3x0 fora de casa e um empate em 1x1 no segundo jogo, mais uma vez foi eliminado precocemente. Acabava aí a fase de ouro do Alania Vladikavkaz: com a saída do técnico Valery Gazzaev (que na década seguinte colecionaria títulos pelo CSKA) e de vários jogadores, o time passou a frequentar a metade de baixo da tabela, até que em 2005 foi rebaixado para a segunda divisão, depois de 15 anos consecutivos na elite russa. A situação ainda ficaria pior: em 14 de fevereiro de 2006, o Alania e o Lokomotiv Chita, que disputariam a segunda divisão não tiveram suas licenças renovadas pela Federação Russa de Futebol, por causa de irregularidades jurídicas, e foram excluídos do campeonato, substituídos por Lada e Mashuk, vindos da terceira divisão. Ainda houve uma tentativa de reverter a situação, mas em março, cinco dias antes do início do campeonato, a decisão foi confirmada. Com a punição, o Alania foi rebatizado como Spartak Vladikavkaz e passou a disputar a terceira divisão-regional sul. A passagem foi curta: campeão regional, passou para a segunda divisão no ano seguinte e voltou a ser chamado de Alania Vladikavkaz. Em 2009, ficou em terceiro lugar mas, com a expulsão do FC Moscou por problemas financeiros, assumiu sua vaga de acesso à série principal do campeonato russo. Com um desempenho decepcionante, ficou em penúltimo lugar naquele ano, voltando à disputa da segunda divisão nacional. Mesmo fora da elite, o Alania Vladikavkaz fez barulho no país, indo até a final da Copa da Rússia desde ano, contra o CSKA Moscou. Com o vice-campeonato e a classificação do CSKA para a Champions League por ter vencido o campeonato russo de 2011, o Alania garantiu sua presença na Liga Europa 2011/2012. Essa foi apenas a segunda vez na história em que um time da segunda divisão da Rússia se qualificou para um torneio europeu (o outro time a conseguir o feito foi o FC Terek Grozny, da Chechênia). Curiosamente, em sua campanha ao vice-campeonato da Copa da Rússia, o Alania não fez nenhum gol: foram três empates em 0x0, com vitórias nos pênaltis; e a eliminação de um adversário por problemas financeiros. Classificado para a terceira etapa eliminatória da Liga Europa, o Alania enfrentou o FC Aktobe, do Cazaquistão, e mais uma vez obteve uma classificação suada. Após empates em 1x1 nos dois jogos, eliminou o adversário nos pênaltis (4x2). Na fase de play-offs, um oponente mais tradicional no cenário europeu: o Besiktas, da Turquia. A sorte do Alania foi decidida já no jogo de ida, em Istambul, com derrota por 3x0. Em Vladikavkaz, a vitória por 2x0 não foi suficiente para evitar a eliminação. Com uma história modesta tanto no cenário europeu quanto em seu próprio país, o Alania tem na próxima temporada a ambição de voltar à primeira divisão nacional. O que vier a partir dali é lucro.
FONTE: ARQUIVO PESSOAL E SITE TRIVELA
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